A economia portuguesa evidenciou em 2013 um inegável, mas ainda não completamente explicável, excedente da balança comercial de 2,6% do PIB, ou seja aproximadamente 4,3 mil milhões de euros, depois de em 2012 este valor se ter resumido a 0,6% mas, mesmo assim, um dos melhores das últimas cinco décadas.
Efetivamente a economia portuguesa estava habituada a apresentar um défice na ordem dos 10% do PIB, ou seja, Portugal tinha, anualmente, de pedir empréstimos no valor de 10% do seu PIB para as suas despesas correntes e para pagar os empréstimos anteriormente concedidos.
Concluirão os mais otimistas que estamos perante um resultado histórico e que inspira uma inegável confiança na significativa redução do desemprego que afeta mais de 700.000 portugueses, da pobreza em que vivem mais de 2,7 milhões de portugueses cujo rendimento é inferior ao limiar da pobreza, dos efeitos da emigração a que se foram obrigados mais de 300.000 portugueses nos últimos anos, …
Nada mais errado e indutor de desajustadas expectativas, muitos equívocos, precipitadas conclusões e inócuos discursos.
É verdade que as empresas realizaram, e continuarão a fazê-lo, um violento esforço de conquista de novos mercados, adequação dos seus produtos, racionalização dos seus processos, otimização dos seus recursos, ….
Contudo é também importante ter presente que o consumo interno é manifestamente inferior ao desejável, às reais necessidades do país, das industrias, das famílias, …., tendo sido violentamente influenciado pelo aumento do desemprego, redução dos salários, compressão dos custos nas empresas, erosão dos resultados empresariais, …
A matriz das nossas exportações também foi fortemente influenciada pelos produtos derivados do petróleo cujo valor induzido ao país é reduzido.
O referido anteriormente não significa que os resultados da nossa economia nos últimos dois anos não mereçam ser valorizados e aqueles que mais contribuíram para os mesmos felicitados, recompensados e incentivados a fazer mais e melhor.
Mas devemos ser muito prudentes e avaliar a evolução da balança comercial nos próximos anos, tendo a humildade suficiente para reconhecer que o valor do superavit de 2013 não é suficiente para pagarmos os juros do capital que nos emprestaram.
Júlio Faceira Guedes
XZ Consultores SA