Reindustrializar Portugal: mas como?

É reconhecido, pela generalidade dos portugueses, que a produtividade nacional é manifestamente insuficiente para assegurar a competitividade que todos ambicionamos, diria que todos exigimos para que este país possa proporcionar aos seus cidadãos uma qualidade de vida aceitável e promissora, no quadro de um país desenvolvido.

Pese a recente evolução do nosso tecido empresarial, mais orientado para a produção de produtos transacionáveis no mercado internacional, o que, em conjunto com uma redução do consumo interno, permitiu o equilíbrio da balança de transações, a economia portuguesa continua a ter como principal motor as PME (99% do tecido empresarial nacional), a maioria das quais sem dimensão para se internacionalizarem (apenas aproximadamente 10% se assumem como exportadoras), e caracterizadas por suportarem os seus processos produtivos em atividades de reduzido valor acrescentado, baixa intensidade tecnológica e com uma débil incorporação de conhecimento.

Estes fatores, e não os salários praticados, agravados pela insuficiente, ou desfocada, qualificação profissional, justificam a nossa débil produtividade quando comparada não só com as economias europeias, mas também com países como os Estados Unidos, Canadá, Singapura, Coreia de Sul, algumas áreas da China, …

Obviamente que alguns dos fatores contextuais, tal como o funcionamento da justiça, a exagerada burocracia nos processos de licenciamento, os impostos, …., evidenciam também uma margem de progresso muito significativa podendo, pelo menos, deixar de se constituir como inibidores e travões ao desenvolvimento e induzirem aumentos desnecessários ao, já elevado, custo do trabalho.

Aumentar o consumo, não é, seguramente, a solução para dar resposta á necessidade de criarmos mais riqueza, sendo uma ilusão acreditar que podemos aumentar as nossas exportações sem uma indústria mais forte, mais criativa, mais inovadora, mais próxima dos produtores de conhecimento, mais amiga do ambiente, mais competente, mais atrativa e motivante.

Neste cenário temos de estimular os empresários a investir, temos de cativar mais investimento direto estrangeiro e temos de aceitar um princípio fundamental: as empresas devem ganhar dinheiro, apresentar lucros, redistribui-los equitativamente e reinvestir.

A Estratégia Europa 2020 constituirá uma importante alavanca neste desígnio nacional, enquadrando os seguintes objetivos:

1. Reforçar o peso da indústria transformadora na economia nacional dos atuais 14% para os 18%;
2. Aumentar o investimento em I&D + I para os 2,8% do PIB;
3.  Incrementar as exportações dos atuais 45%do PIB para os 52%.

Aguardamos com serenidade mais informações sobre o modelo de gestão dos fundos comunitários para o período de 2014 a 2020, esperando que sejam realmente canalisados para quem pode potenciar a concretização dos objetivos acima referidos.


Júlio Faceira Guedes
XZ Consultores, SA

<< Voltar