Entrevista com Paulo Pires - Consultor IB da XZ Consultores

QUESTÃO

O reforço das exportações portuguesas assumiu-se como um inegável motor da economia nacional, contribuindo decisivamente para o equilíbrio da balança de transações e para a redução do défice. Que leitura faz às consequências da dramática redução do preço do petróleo na evolução das nossas exportações.


RESPOSTA

Assistiu-se nos últimos meses a um redução do preço da energia, na qual se inclui o petróleo e o gás natural, e que tem afetado sobretudo países produtores e com forte dependência desses recursos. Pela proximidade cultural, Angola tem merecido amplo destaque nas notícias, até porque o número de portugueses a trabalhar nesse país é muito relevante. Mas Moçambique, Venezuela, Brasil e a Rússia são mercados que estão a ser atingidos pela redução drástica do preço da energia. Na globalidade, esse efeito tem tido repercussões nas exportações portuguesas, com implicações no ano de 2014. A tabela seguinte corrobora o afirmado.

IB - Exportações portuguesas


Perante os dados da tabela, 2015 será um ano difícil para as exportações portuguesas para os países produtores de petróleo e gás natural, tendo-se verificado, já em 2014, uma diminuição das exportações, sendo a única exceção Moçambique. O caso de Angola sobressai pois a importância deste país, com 6,67% de quota nas exportações, é por si só significativo.

 

 

As decisões políticas anunciadas pelos diversos governos que têm como finalidade proteger as economias nacionais preconizam um aumento das dificuldades nas atividades de exportação das empresas portuguesas e nas transferências financeiras para o território nacional.

 

QUESTÃO

Os produtos exportados continuam e evidenciar uma reduzida incorporação tecnológica e, pese o facto da balança de transações tecnológica ser favorável ao nosso país, os últimos anos evidenciam uma degradação da mesma. Porquê?


RESPOSTA

IB - Exportações portuguesas/produtoCom as devidas exceções, não existe uma razoabilidade lógica na obtenção de sucesso num processo de internacionalização sem incorporação tecnológica. A incorporação tecnológica é um facto irreversível e é imprescindível quer no mercado nacional quer nos mercados internacionais. Restringindo a uma perspetiva de internacionalização, a incorporação tecnológica tem mostrado a sua importância nos mais diversos setores, salientando-se o sucesso do têxtil e do calçado, em que o sucesso das empresas portuguesas refez-se quando esse fator foi incorporado nas decisões estratégicas. O saber fazer tradicional, acrescido da inovação e posterior incorporação tecnológica tem permitido que inúmeras empresas portuguesas consigam o reconhecimento internacional.

Sobre a questão da balança de transações tecnológica se ter degradado, é preciso relembrar que o peso dessas transações nas exportações, tradicionalmente, sempre foi pequeno. Isso pode ser comprovado através dos dados da tabela. Por outro lado, os produtos de índole tecnológica requerem investimentos importantes e continuados em investigação e desenvolvimento, o que não foi incentivado durante demasiado tempo pelas instituições competentes e reconhecido pelas empresas. Mas esse padrão já mudou e prevê-se que num futuro próximo as empresas portuguesas possam ser concorrenciais nesses setores.


QUESTÃO

Quais, na sua perspetiva, devem constituir os mercados alvo para as empresas portuguesas?


RESPOSTA

Não existem mercados alvo genéricos para as empresas portuguesas. Cada empresa é uma entidade única, com as suas vantagens competitivas e fatores diferenciadores, mas também com as suas fraquezas e limitações. Um mercado externo pode ser muito atrativo para uma empresa, mas outra empresa desse mesmo setor pode considerar esse mercado inadequado ao seu processo de internacionalização. Consequentemente, qualquer empresa deve efetuar os estudos de mercado necessários à identificação dos mercados que permitirão ter uma maior probabilidade de sucesso.

 

QUESTÃO

Muitas das aventuras empresariais nos mercados externos têm sido um insucesso, induzindo custos que, não raras vezes, induzem dificuldades de tesouraria muito severas nessas empresas. Quais as principais causas destes insucessos?

 

RESPOSTA

A questão colocada contém implicitamente a resposta. Um processo de internacionalização não pode ser uma aventura. Os mercados internacionais são muito mais complexos do que o mercado local da empresa, requerem uma aprendizagem vasta, e quando se enquadra a dimensão das empresas portuguesas na dimensão global da concorrência externa e a dimensão de Portugal nos mercados externos, concluímos que elas são, quase sempre sem exceção, mais pequenas e que Portugal é um país pequeno. Ora, um processo de internacionalização mal estudado, mal concebido ou mal implementado vai ter impreterivelmente implicações fortes nos resultados da empresa.

É difícil apontar causas genéricas para o insucesso dos processos de internacionalização das empresas portuguesas. Até porque os fatores serão diferentes de mercado para mercado. Contudo, assistiu-se e ainda permanece a tentação de proceder à internacionalização sem adaptar a própria estrutura organizativa e incorporar competências e recursos para responder às novas exigências. Acresce referir, que é determinante, primeiramente identificar os mercados mais apropriados para iniciar o processo de internacionalização, selecionar qual ou quais os mercados em que se vai intervir e posteriormente um estudo aprofundado desses mercados. Estas duas grandes ações – adaptação da estrutura e estudos de mercado – são complementares.

 

QUESTÃO

Quais os fatores que considera críticos para o sucesso de um programa de internacionalização?


RESPOSTA

A resposta anterior já indiciou dois dos fatores críticos. O primeiro será adequar a estrutura organizativa com os recursos e competências necessárias a suportar o processo de internacionalização. Tal implica, por vezes, um reajuste transversal, implicando alterações desde a logística, à contabilidade, marketing, comercial, etc.

Ainda sobre este fator, a empresa tem duas alternativas: 1) outsourcing recorrente a parceiros com competências na internacionalização de empresas; 2) aquisição de competências e retenção dessas competências através da contratação de quadros. As vantagens e desvantagens devem ser mensuradas e posteriormente tomada a decisão.

O segundo fator incide na imperiosidade de estudar os mercados em que se quer intervir. Um mercado externo requer um estudo aprofundado para que a empresa compreenda como deve agir para ter sucesso. Entre outros, a empresa deve obter e compreender os seguintes temas de informação: geografia; cultura; concorrência; política/legislação; acesso a parceiros de negócios; custo/investimento; requisitos de produto/mercado; pessoal/recursos; língua; estratégia de distribuição/logística. Só, posteriormente a ter essa informação, poderá ser formulada uma estratégia, sublinhando a palavra estratégia, seguindo-se-lhe a planificação das atividades que suportarão a estratégia definida.

 Paulo Pires, Consultor IB

XZ Consultores, SA

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