Inovação Social: qual o seu papel na atual sociedade?

 

Artigo JFG

 


“A crise económica e financeira torna a criatividade e a inovação, em geral, e a inovação social, em particular, ainda mais importantes para criar crescimento sustentável, empregos seguros e aumentar a competitividade.”
Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia

As necessidades sociais, quer aquelas que há muito são conhecidas, quer as que recentemente têm ganho uma dimensão e notoriedade impensável há alguns anos, consequência, não só da profunda crise financeira vivida pela sociedade e por muitas famílias, dos mais diversos estratos sociais e grupos etários, mas também a crise de valores de cidadania, a insuficiente natalidade, o envelhecimento da população, a excessiva emigração dos mais jovens, a evolução dos custos da saúde, o aumento das doenças de demência, mais comuns nos países desenvolvidos, o crescimento da exclusão social, a imprevisível evolução do clima, a escassez de água e de energia, o incremento da incidência de doenças crónicas…, exigem novas abordagens, novas perspetivas para a sua leitura, interpretação e resolução, novas parcerias para a sua gestão, mais conhecimento, novos modelos de participação dos cidadãos, ….

É neste contexto que a inovação social, conceito que surge de uma forma sustentada nos anos 60 do século passado, mas que, até muito recentemente, esteve particularmente orientada para as questões da aprendizagem, do emprego (organização do trabalho), das políticas sociais e do ordenamento do território e incidiu privilegiadamente sobre o contexto (qualificação, emprego, segurança social, território,…).
Muitas são as definições de Inovação Social, e, não querendo prestigiar uma face ás restantes, aprecio a conceptualizada por Nilsson (2010) que refere “A inovação social é uma mudança significativa, criativa e sustentável, na forma como uma sociedade lida com um problema profundo e anteriormente complicado, tal como a pobreza, a doença, a violência ou a deterioração do meio ambiente“.

A generalidade dos autores reconhece que a inovação social objetiva satisfazer necessidades humanas e sociais, contrapondo á inovação de base tecnológica que está profundamente orientada para o mercado e para a criação de valor económico, tal não significando que há um divórcio entre as duas e que estas não possam, aliás não devam, em conjunto, proporcionar mais valor económico e social à sociedade.

Efetivamente os problemas da sociedade são cada vez mais imprevisíveis, frequentes, sistemáticos, complexos e crónicos, exigindo competências multidisciplinares, novos conhecimentos, recursos financeiros muito significativos, novas atitudes e comportamentos da sociedade e dos agentes socioeconómicos, e muito frequentemente apoio político, trabalho voluntário e compromisso filantrópico.

São múltiplos os exemplos de inovação social, alguns da iniciativa de algumas empresas, outros provenientes da intervenção das Instituições de Solidariedade Social e muitas outras, às vezes injustamente desconhecidas, da sociedade civil, frequentemente liderada e participada pelo cidadão anónimo que de uma forma voluntária dedica uma parte importante do seu tempo a estas iniciativas.

A intervenção dos Médicos Sem Fronteiras, da Greenpeace, da Amnistia Internacional, do Banco Grameen (microcrédito), do comércio justo, dos modelos de orçamento participativo, da Bolsa de Valores Sociais, …, constituem alguns dos muitos exemplos de inovação social, cujo impacto económico é frequentemente difícil de calcular, mas o social é visível no sorriso da criança, na felicidade do avô, na serenidade do pai e na confiança da mãe.

As necessidades e os problemas sociais, interpretados nas suas diferentes perspetivas e dimensões, devem ser encarados como oportunidades, que podem ser exploradas no quadro da inovação social, e dessa forma contribuir social, mas também economicamente, para a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos, para a criação de riqueza, para o aumento da empregabilidade e para o surgimento de novos empreendedores sociais.

A Inovação tecnológica é fundamental para o reforço as exportações, o equilíbrio da nossa balança de transações, mas a inovação social não deve ser desprezada num contexto de imperiosa necessidade de reforçar a criatividade, a produção de conhecimento e a inovação para melhor responder às crescentes necessidades da sociedade.

Júlio Faceira Guedes
Administrador da XZ Consultores SA

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