Muito se tem investigado, analisado e concluído acerca da degradação da capacidade industrial da Europa. Teria sido uma causa ou um efeito da globalização?
Nas últimas décadas a sociedade europeia testemunhou um dos movimentos mais marcantes e desafiantes da sua civilização. Refiro-me à globalização, com toda a carga geopolítica, social, económica, tecnológica e emocional que esta expressão possa ter e com as diferentes interpretações que os seus defensores, ou detratores, utilizam para ampliar os seus efeitos, em particular aqueles que sustentam as suas argumentações.
A abertura das fronteiras, a evolução das tecnologias de informação e comunicação, o reposicionamento de alguns dos poderes políticos dominantes, a surgimento de novos atores que influenciaram dramaticamente as cadeias de fornecimento, as significativas diferenças no custo do trabalho, assim como na legislação laboral e nas exigências ambientais, contribuíram para uma inesperada, mas rápida, redistribuição da atividade económica, a qual tem vido a ser agravada pela suspeita redistribuição da riqueza nos novos países industrializados e pelo surgimento de uma classe média com exigentes ambições.
As consequências sociais e económicas, concretamente no mercado de trabalho visíveis no aumento galopante do desemprego na Europa, no acréscimo dos custos sociais, assumidos, por exemplo, com os desempregados, e na erosão da riqueza produzida, podem ser, por exemplo, compensados com os novos mercados para os produtos europeus, com o decréscimo dos preços de alguns produtos.
Alguns dos países, reconhecidamente favorecidos por este movimento de deslocalização da indústria europeia, adquiriram uma dinâmica global e uma influência geopolítica nalgumas geografias que lhes permitem dominar, às vezes com recurso a modelos politico-comerciais inaceitáveis do ponto de vista da ética e da transparência dos negócios, os principais produtores de algumas das matérias-primas fundamentais para a sociedade, visualizando-se nalguns casos um quase monopólio com inimagináveis repercussões à escala global.
Neste cenário, a grande questão que se coloca é de como fazer regressar à Europa a indústria, reconhecendo-se que o regresso ao protecionismo do mercado constitui um desafio de difícil aceitação e operacionalização, quer na perspetiva das decisões politicas quer pela perda do potencial mercado que essa decisão poderia induzir.
Como reindustrializar, sem colocar em questão a transparência do mercado europeu e as regras da livre concorrência? Que setores industriais privilegiar, reconhecendo-se que os mesmos deveriam potenciar a redução do desemprego? Como e quem deve começar?
Obviamente que a resposta a qualquer uma destas questões exige estadistas com uma visão e abordagens inovadoras, que interpretem a europa não como um conjunto de países, só e apenas com interesses próprios, que assumam como uma prioridade dos seus mandatos a promoção da criação e desenvolvimento de novas industrias criativas, amigas do ambiente, inovadoras, orientadas para o mercado global e tecnologicamente suportadas no conhecimento que existe nas nossas universidades.
Júlio Faceira Guedes
XZ Consultores, SA