O papel do empreendedorismo na criação de valor para a sociedade

A “aldeia global”, agravada pela dramática e disruptiva evolução da ciência e das tecnologias, pelo reforço dos investimentos na produção de conhecimento, pela surgimento de movimentos protecionistas, pelo esgotamento de algumas matérias-primas, pelas implicações da abusiva utilização dos consumíveis fosseis, pelas, ainda parcialmente desconhecidas, consequências da evolução da inteligência artificial, da robotização, da digitalização e da desmaterialização, está a induzir uma alteração significativa das condicionantes que influenciam a sustentabilidade das empresas, e dos países, alterando os fatores críticos para  seu sucesso e o seu posicionamento na cadeia de valor.

É neste contexto, adverso, mas estimulante e entusiasmante, no qual o domínio de uma tecnologia, o desenho de um novo modelo de negócio, o caracter inovador de alguns produtos/serviços, podem constituir, mesmo que temporariamente, uma alavanca para o desenvolvimento de novos atores no mercado, que o empreendedorismo, seja de base tecnológica, social, ou outra, está a atrair, novos e velhos, recém-licenciados ou profissionais já com uma inegável experiência, assim como um novo conjunto de atores, tais como os business angels, as capitais de risco, os fundos de investimento orientados para o capital semente, …., assim como o reforço de infraestruturas, tais como as incubadoras, as aceleradoras, ….

O movimento do empreendedorismo é encarado por alguns países, e por uma importante parte da sociedade, como um motor do desenvolvimento fundamental para a criação de riqueza, para a valorização do conhecimento produzido nas nossas universidades, para o aumento do emprego qualificado e para o incremento da intensidade tecnológica das balanças de transações.

Muito se tem discutido sobre os investimentos que a sociedade faz nos empreendedores, sobre a sua elevadíssima taxa de insucesso, sobre a inegável precipitação e insuficiente qualidade da gestão de alguns dos empreendedores, reconhecendo também o sucesso de alguns, tais como a Farfecth, a Talkdesk, a OutSystem, a Seedrs, …, assim como o importante papel de universidades, tais como a do Porto, a Nova, a do Minho, a de Aveiro, …, berço de um crescente grupo de empreendedores.

A generalidade dos nossos empreendedores não alcançará os seus objetivos empresariais, alguns aprenderão com os seus erros e construirão novos projetos, outros integrar-se-ão no mundo do trabalho com um portfólio de competências marcadas pela sua experiência passada e que em muito contribuirá para a melhoria da qualidade da gestão.

O sucesso das novas gerações, num quadro de crescente substituição do homem pela máquina, dependerá da sua criatividade, da sua visão, da sua iniciativa, da sua capacidade de agir e decidir, num contexto de multivariáveis de comportamentos imprevisíveis, da sua vontade de empreender, de assumir riscos, de colocar em questão as práticas de gestão e de se sacrificarem para alcançarem os seus objetivos.

A sociedade tem de reforçar o investimento no desenvolvimento destes fatores, começando nas escolas, estimulando as crianças a empreender, a olhar para fora do retângulo, a premiar a diferença e a assumir riscos.

Temos a certeza de que não teremos muitos negócios como a Uber, ou o Airbnb, ou o Google, ou o Facebook, mas teremos uma sociedade mais empreendedora, mais amiga da tecnologia, mais consciente dos riscos associados á sua utilização, mais conciliadora e mais amiga do ambiente.

Júlio Faceira Guedes

Administrador da XZ Consultores, SA

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