Como explicar a significativa evolução da certificação dos Sistemas de Gestão da Inovação?

 

Inovação

Portugal, em 2007, tomou uma iniciativa inédita e inovadora à escala global, tendo sido responsável pelo surgimento de um novo movimento no desafiante, complexo e turbulento mundo da gestão da inovação: a promulgação das normas portuguesas NP 4457 que enquadram um conjunto de requisitos para os Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação, as quais tiveram na sua base um novo Modelo de Inovação: o modelo de 5ª. Geração conhecido pelo Modelo das Interações em Cadeia, suportado por interfaces e interações entre o conhecimento científico e tecnológico, o conhecimento sobre a organização e o seu funcionamento, e o mercado ou a sociedade em geral.

A promulgação deste relevante referencial normativo estimulou a publicação de um, significativo, conjunto de normalização no quadro da gestão da inovação, alguma constituída por Linhas de Orientação, outra por um conjunto de requisitos, por exemplo, para os Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação ou para a gestão dos Projetos de Investigação, Desenvolvimento e Inovação.

Países como o México, Espanha, Canadá, França, ….., publicaram normas orientadas para a gestão do conhecimento, a gestão dos projetos de Investigação & Desenvolvimento, a Vigilância Tecnológica e de Mercado, …, e, nos últimos anos para a Inovação Aberta (Chesbrough).

Alguns anos após a publicação da referida norma portuguesa, que teve a responsabilidade de iniciar o movimento de certificação dos Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação, em 2013 o CEN publicou a CEN/TS 16555-1: Innovation Management - Part 1: Innovation Management System, a qual estabelece um conjunto de requisitos para a implementação de Sistemas de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação.

Uma análise comparativa, e simplista, da NP 4457 com a CEN/TS 16555-1, permite concluir que, pese o facto de os seus objetivos serem idênticos, são significativamente distintas, quer do ponto de vista conceptual, quer operacional, sendo a segunda, significativamente, mais harmoniosa e alinhada com a estratégia e a visão das organizações, com o seu posicionamento no mercado, frequentemente instável e em mudança permanente, e como tal indutor de um conjunto de riscos e oportunidades associados ao negócio, e com as necessidades de todas as partes interessadas.

Efetivamente, a segunda enquadra um conjunto de requisitos não referidos na primeira, entre os quais se destacam os focalizados nas seguintes dimensões da gestão: o papel da liderança no contexto da gestão da inovação, a gestão do risco e das oportunidades associadas, por exemplo, à gestão das atividades de investigação, desenvolvimento e inovação, o foco na satisfação das necessidades e expectativas, não só dos clientes, mas de todas as partes interessadas e a, imprescindível, gestão dos recursos financeiros.

Mais recentemente, a ISO criou o TC 279 e estabeleceu que, a 14/8/14 o Plano de criação de uma Norma para Sistemas de Gestão de Inovação que deverá permitir o lançamento de uma norma ISO em Novembro de 2017.

Pese o facto de, em Portugal, o número de empresas certificadas estar a evoluir de uma forma marcante, aproximando-se das 300 entidades com o Sistema de Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação já certificado, ainda é prematura fazer uma avaliação sustentada, credível e abrangente dos efeitos decorrentes da implementação e certificação destes sistemas de gestão.

Contudo, há alguns que inequivocamente podem desde já ser reconhecidos:

  1. O reforço da consciencialização da imperiosa, e inadiável, necessidade de reforçar a criatividade e a inovação, assumindo-os como fatores fundamentais para a sustentabilidade das organizações, num mercado híper-competitivo;
  2. A reflexão induzida pela adoção deste referencial normativo tem potenciado o reforço da cultura de inovação, do reconhecimento de que a inovação pode assumir-se como um vetor fundamental para o sucesso das organizações;
  3. A sistematização, e nalguns casos a uniformização, das metodologias para gerir e executar as diferentes atividades de Investigação, Desenvolvimento e Inovação;
  4. A melhoria da gestão da informação e do conhecimento, não só em termos da sua produção, mas em particular da sua valorização;
  5. O reforço na submissão das ideias, assim como a melhoria da sua qualidade e o aumento do número de profissionais que participam, não apenas na submissão, mas também na análise das ideias;
  6. A inegável evolução da atenção dispensada pelas organizações aos direitos de propriedade intelectual.

Temos a certeza que a decisão da ISO constituirá um momento marcante no movimento da certificação dos Sistemas de Gestão da Inovação.

Júlio Faceira Guedes, Administrador da
XZ Consultores, SA

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